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domingo, 19 de maio de 2013

Lançamento do Livro Rios de Memórias da escritora Ana Angélica Matos Rocha na Biblioteca Eulina Assunção Novaes, em Iguaí Bahia, em 16 de Maio de 2013.

Palestra de Ariano Sussuarana No Festival da Juventude de Vitória da Conquista

Maravilhosa palestra de abertura do Festival da Juventude de Vitória da Conquista, realizada em 10 de Maio de 2013 no Centro de Convenções Divaldo Franco. Cerca de 4 mil pessoas de várias partes do estado da Bahia e de outros estados presenciaram este momento histórico.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Notícias de Iguaí : Tarde de Autográfo do livro Rios de Memórias, hoje, 16 de Maio de 2013, a partir das 16:00 horas

Tarde de Autográfo do livro Rios de Memórias, hoje, 16 de Maio de 2013, a partir das 16:00 horas.

A escritora Ana Angélica Matos Rocha  convida todos os iguaienses para a Tarde de Autógrafos do livro Rios de Memória que acontece hoje a partir das 16 h na Biblioteca Pública Eulina Assunção Novaes em Iguaí - Bahia.
Sobre o livro ela declarou:
 - O livro conta recortes da minha infância e juventude em Iguaí. Explora, em uma linguagem  coloquial minhas andanças pelos Rios da cidade e retalhos de vidas das pessoas que vivem eternamente na minha memória.
CONVITE TARDE DE AUT€ ¦’  € ¦¦ÓGRAFO EM IGUA€ ¦’  € ¦¦Í (500x334)
Local: Rua Monteiro Lobato, 174 – Iguaí-Bahia (Biblioteca Municipal Profª Eulina Assunção Novaes)
Data: 16/05/2013
Horário: 16:00h

Um pouco da história da escritora Ana Angélica Matos Rocha Gonçalves
Casada, mãe de três filhos, avó de dois netos e duas netas. Sessenta e sete anos. Natural de Iguaí-Bahia. Atualmente reside Feira de Santana, Bahia, Brasil. Professora (aposentada pela Universidade Estadual de Feira de Santana). Atualmente, ocupa o tempo com a pintura em tela, e escrevendo. Lançou recentemente minhas memórias de infância e já começou o esboço do que será um "Diário de Bordo". Na área de Educação, tem ainda livros e artigos publicados.
Fonte: http://br.dir.groups.yahoo.com/group/iguai/message/14538
http://www.iguaibahia.com.br/tarde-de-autografos-do-livro-rios-de-memorias/



Inauguração da Biblioteca Pública Municipal de Iguaí que recebeu o nome da Professora Eulina Assunção Novaes

domingo, 12 de maio de 2013

Capítulo do Livro Rios de Memórias da Professora Ana Angélica Matos

Capítulo do Livro Rios de Memórias da Professora Ana Angélica Matos Rocha intitulado Dona Sinhá (mãe da escritora) - especial para este domingo, 12 de maio de 2013 Dia das Mães! http://www.slideshare.net/slideshow/embed_code/21031157

sábado, 11 de maio de 2013

Capítulo do Livro Rios de Memórias da Professora Ana Angélica Matos Rocha intitulado Dona Sinhá - a sua mãe -  especial para este domingo, 12 de maio de 2013 Dia das Mães!



Dona Sinhá
Eu quero a memória acesa depois da angústia apagada.
Cecília Meireles

 Dona Sinhá, assim era conhecida por todos na cidade apesar de seu nome verdadeiro, doce, e suave, que traduzia a leveza da sua alma: Isabel. A mais velha das quatro filhas de meu avô. Uma mulher forte, de fibra. Casou-se com meu pai aos vinte e dois anos, um casamento arranjado entre primos. Viveram sessenta e um anos, de uma vida conjugal que não foi, talvez, a mais romântica, mas, creio que se amavam apesar das diferenças individuais.
 Meu pai, um homem rústico, pouco afeito a dengos, minha mãe, uma mulher que só vivia para o lar, saía apenas para ir à igreja ou quando estava lavando roupa no Rio Gongogi, ou no Rio Preto. Criou nove filhos. Amava-os incondicionalmente, eram como joias preciosas em suas mãos, ou pintinhos debaixo das suas asas.
 Nunca entendeu e não se conformava com as peças que a vida muito cedo lhe pregou: perdeu, ainda crianças, dois de seus filhos, uma menina e um menino. Assistiria outros dois, já adultos, partirem prematuramente.
Dona Isabel não tinha escolaridade, desenhava, com dificuldade o seu nome, quando era preciso assinar algum documento público ou cumprir, através do voto, seu papel de cidadã. Aprendera a ler na fase adulta estudando a Bíblia, sua fonte de doutrina e fé, de onde tirava  ensinamentos para sua vida.
Falava de Jesus e compartilhava, com todos que chegavam lá em casa, do que Ele significava na sua vida. Dava exemplos de como viver conforme os preceitos do Evangelho, citava versículos, lia passagens bíblicas. Sabia “de carreirinha” onde estava, na Bíblia, quase tudo do que, naquele momento especificamente, ela iria precisar. Tinha uma palavra de fé para cada um.Uma vez por mês, o pastor ministrava um culto lá em casa, almejava que todos os seus filhos estivessem ali e comungassem com ela a mesma fé. Sonhara, por toda a vida, ver seu marido, aos domingos, acompanhando-a  à igreja. Nunca conseguiu. Porém, testemunhou a sua conversão ao Deus Supremo, já no fim da sua jornada aqui na terra. Ficou feliz, glorificou  o nome do Senhor.
E, a cada dia, procurava viver conforme os ensinamentos de Jesus, como uma verdadeira cristã: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Fundadora da 1ª Igreja Batista da cidade, aí congregou por mais de sessenta anos.
Esposa sempre dedicada ao marido, mesmo nos momentos em que esse não correspondia às suas expectativas, quando chegava em casa zangado ou até  muito agressivo explodindo com quem achasse pela frente.
Em casa, tinha a companhia silenciosa, mas muito amorosa do seu bichinho de estimação – o Lourinho, como era chamado o papagaio que recebera da irmã que foi morar em Recife, em um mil novecentos e sessenta e quatro. Amava-o, como a um membro da família. Conversava com ele, que respondia com arrufos de alegria chamando-a Sinhá, Sinhá... Nunca mais o deixaria. Apesar da ausência saudosa da sua protetora, ele sobrevive tristonho até hoje.
Ainda menina, eu presenciava, sem condições de nada fazer, minha mãe sofrer dilaceradamente. Os seus três filhos mais velhos partiram em busca de trabalho no Sul do país. Um a um era pranteado diariamente, numa época em que não havia as facilidades tecnológicas de hoje, nem ao menos um telefone.
Logo mais, minha irmã mais velha se casa, ficam com meus pais eu e dois irmãos mais moços.  Um desses, parte mais tarde em busca de estudo e trabalho. De resto, eu e meu irmão caçula,  como seus ajudadores. E eu, como sua cuidadora.
A princípio, minha irmã continuou morando na nossa cidade, o que nos consolava, poderíamos vê-la sempre. Minha mãe tinha um cuidado especial com ela. Quando o marido viajava, ou eu ou um dos meus irmãos mais novos teria que ir dormir em sua casa. Ninguém questionava, era uma ordem, apesar de não gostar muito de deixar a minha cama.
Quando minha irmã engravidava, cuidados redobrados. Nos dias que antecediam a data provável do parto, não tinha quem fizesse ela arredar pé da casa da filha, e me levava junto, caso precisasse de alguma coisa. Lembro uma noite em  que seu marido viajara, e tive que  “dormir” sentada na porta do quarto onde as duas estavam. Eu chorava e pedia compaixão, que me deixassem entrar, e nada. O importante, naquele momento, era o bem-estar da minha irmã. Na verdade, falecera alguém na cidade, e eu estava com  medo de dormir sozinha. As duas alegaram que não me cabia onde elas dormiam, voltasse então para meu quarto. É claro, não dormi. No outro dia, meu coração estava sofrido, repleto de raiva, a vontade era desaparecer, se isso fosse suficiente para tirar, de dentro de mim, aquele sentimento de rejeição. Não fiz nada disso. Estava com muito sono e precisava, com urgência, de uma cama. Hoje, resta a lembrança de um momento  bastante desagradável,  sem qualquer ponta de mágoa.
 Quando minha irmã entrou em trabalho de parto da segunda filha, sobrou para mim, aos dez anos de idade, às quatro horas da manhã, ter que buscar a parteira. Fazia um frio de quebrar os ossos - o mês de maio sempre foi muito frio. E, sem um agasalho mais apropriado, saí a galope pela madrugada, atravessando a cidade enrolada em um lençol, da cabeça aos pés. Parecia mais uma alma penada nas ruas nebulosas e sombrias da cidade. Meu corpo se arrepiava e sentia calafrios. Medo ou frio? Provavelmente os dois.
Nascida a menina e, já no outro dia, eu teria o trabalho de lavar-lhe as fraldas. Isso todos os dias. Quando recusava realizar a tarefa, apanhava ou, no mínimo, ficava de castigo sem poder ir ao encontro de minhas primas. Para mim, um castigo e tanto! Não tinha em casa irmã que brincasse comigo. Alguma prima cobria a falta. Moravam próximas umas das outras. Apanhei várias vezes por não cumprir uma obrigação a fim de ir brincar com elas.
 Mais tarde, essa irmã, acompanhando o marido, muda para Minas Gerais – Nanuque. E, depois, para o extremo sul da Bahia, precisamente, Alcobaça. Fica comigo a responsabilidade de, como a única filha mulher presente, tomar conta de minha mãe. Tudo era comigo. Mensalmente, em um dia exato escolhido por ela,  tinha  de escrever três cartas, uma para cada um dos filhos que moravam no Sul e Sudeste do país. Sentávamos à mesa, e ela ia ditando o que iria dizer: pedia cuidado com os perigos da cidade grande, falava da saudade que sentia, mandava lembranças de todos os familiares, incluía fotos e, ao final, implorava que respondessem a carta assim que a recebessem.
Ao ditar a carta, chorava, lamentava a falta dos filhos, como se já os tivesse perdido para sempre. Muitas das vezes, eu chorava com ela. O seu sofrimento me deixava com muito ódio dos meus irmãos que, de longe, não viam o que se passava. Angustiava-me vê-la à  espera  de uma carta  deles, que demorava meses ou até mesmo anos. Quando chegava, eu tinha que ler pelo menos três vezes e por vários dias. Ao arrumar os seus pertences, após ter nos deixado aos noventa e quatro anos de idade, encontro esta enviada por meu irmão, de 1958. Estava eu com doze anos de idade. 


Após receber essa correspondência, nós o vimos por umas duas vezes. Decorridos oito anos, ele morre,  aos trinta e três anos de idade, em circunstâncias trágicas. Caíra do oitavo andar de um prédio no centro de São Paulo - o apartamento onde morava, havia pegado fogo.
A causa real, nunca se soube. Sobre o episódio, só tivemos notícias alguns dias depois. Um primo distante, que não víamos há anos, leu, nas páginas policiais de um jornal de São Paulo, uma nota sobre um corpo que caíra de um prédio no centro da cidade. O nome que aparecia no jornal era de Xenaldo Matos Rocha, meu irmão. O mesmo primo, após a identificação do corpo,  assumiu o sepultamento e nos comunicou o que ocorrera através de carta.
Na época, eu ensinava Educação Física no Ginásio de Iguaí. Em um exato dia, antes de receber a triste notícia da morte de meu irmão, acordara às cinco horas da manhã, para me encontrar com os alunos, onde íamos ter uma atividade. Não me lembro do assunto, mas era algo ligado à alvorada, ensaio de desfile ou coisa parecida. Logo ao acordar, de passagem pela a cozinha, para ir ao banheiro, que ficava fora do corpo da casa, me deparo com minha mãe chorando sem consolo. Assustada, pergunto o que havia acontecido e, aos prantos, ouço o que jamais esqueci:
- Minha filha, acordei sem um pedaço de mim. Arrancaram um pedaço do meu coração. Está doendo muito.
 Abraçamo-nos, chorei com ela até acalmá-la enquanto buscava ajuda. Após alguns dias, recebemos a notícia da data e hora exata da morte de meu irmão. Eram as mesmas daquele momento em que encontrei minha mãe chorando na cozinha.
Foi muito forte e muito difícil de acreditar no que estava assistindo. Minha mãe, no seu amor extremo, sentira prematuramente as dores da perda de seu filho. Eu sofria duas vezes: pela perda do meu irmão e por minha mãe. Por muito tempo, permaneci  anestesiada, assustada, sem ação, querendo  ajudá-la e sem saber como. Cobria-a com  todo  zelo, mas os problemas  estavam apenas começando.
Janeiro de um mil novecentos e sessenta e seis, mês em que meu irmão morrera. Minha mãe parecia um trapo humano. Eu, fortemente fragilizada, fazia tudo para não a deixar sucumbir. Teríamos de ir para Nanuque. Minha irmã estava esperando, para o mês de fevereiro, o nascimento do seu quinto filho. Sabia que a viagem representava um dos maiores desafios que iríamos enfrentar. Minha mãe enjoava bastante em viagens terrestres, e essa duraria, mais ou menos, uns quatro dias. Não havia ônibus direto para a cidade. Em algum trecho, teríamos que pegar um trem. Mas, o amor de mãe falou mais alto, e ela não pensou duas vezes.
 Preparamos tudo e pegamos a estrada. No caminho, o sofrimento foi duas vezes maior. Minha mãe, com a alma despedaçada e, ainda, aguentando firme o enjoo. Foram quatro dias sem comer, sem beber. Tomava água aos golinhos provocada por mim. Através da janela, olhando a paisagem, eu  divisava, no horizonte, um amanhã nebuloso e a incerteza se chegaríamos ao nosso destino. O ritmo cadenciado do trem fazia  lembrar que a realidade era aquela, nua e crua. Tínhamos de ser fortes. Porém, confesso que tive muito medo de minha mãe sucumbir à viagem.
 Chegamos! Não sei como, mas chegamos. Minha mãe logo me recomendou que não contasse nada sobre o que acontecera ao nosso irmão. A notícia poderia comprometer o parto.  Padecendo a dor da perda do filho, não tinha o direito de deixar transparecer um semblante triste, choroso. O bem-estar de sua filha, naquele momento, estava acima do seu próprio sofrimento. Que amor incondicional! Que coração é esse para aguentar, ao mesmo tempo. a alegria de estar com a filha e o sofrimento de perder um filho. Como explicar tal dialética?
 Na primeira quinzena de fevereiro, em uma tarde de domingo, chega à casa de minha irmã uma nossa conhecida que  viera fazer uma visita de pêsames à família. Logo na entrada, descarrega, desastradamente, estendendo a mão à minha mãe:
- Meus pêsames!
 Minha irmã fica paralisada, minha mãe treme como vara verde e eu, naquele fogo cruzado, tive de contar a história tentando não me emocionar para não piorar as coisas. Poucos dias depois, como num filme, lá estava eu novamente, numa cidade distante, agora não mais embrulhada num lençol, mas enrolada, às voltas, sem saber ao certo como achar o caminho do hospital para chamar o médico que iria fazer o parto em casa.  Logo ao chegar, ele pediu-me que entrasse no quarto para ajudar-lhe. Nos meus vinte anos, com a coragem de uma leoa e a fragilidade de quem não sabia nada de nada sobre o parto, recebi, nos meus braços, uma menina linda, enquanto o médico cortava o cordão umbilical. Concluiu o seu trabalho e foi embora.  Fiquei com a criança limpando-a e arrumando-a. Só depois, a entreguei à mãe para amamentar.
A menina linda que peguei em meus braços, hoje, compartilha o seu amor e toda a sua dedicação à sua mãe, como um dia eu fiz com a minha. Que seja, para sempre, abençoada.
 Depois dessa bendita maratona, decidimos que não havia mais condições de minha mãe viajar para tão longe por via terrestre. As próximas viagens para Alcobaça, onde minha irmã passou a morar, aconteceriam de outra forma. Iríamos de carro até Ilhéus onde ela pegaria o avião para Caravelas onde estaria meu cunhado, esposo de minha irmã, à sua espera.
 Recordo-me, com carinho, do meu cunhado. Gostava de mim, como de uma filha. Presenteou-me com uma penteadeira recomendando que era um brinquedo de boneca. Quando recebi o móvel, fiquei estatelada. Enfeitou o meu quarto enquanto morei em Iguaí e até hoje faz parte das minhas relíquias, na casa da minha cidade.  Sempre nas idas a Alcobaça, procurava nos agradar com comidas exóticas que mandava preparar na beira da praia, ou outros quitutes que, para nós, eram novidade. Meu cunhado não está mais entre nós, para ele, a minha gratidão e saudade eternas.
Nos momentos de férias em Alcobaça gozava do convívio de minha irmã, de minhas sobrinhas e sobrinhos. A sobrinha mais velha, a que me deu o trabalho de ir buscar a parteira às quatro horas da manhã, já me acompanhava nas paqueras aos garotos que vinham de toda parte do Brasil veranearem na cidade, principalmente da Bahia e de Minas Gerais.
Uma outra sobrinha mais nova, à época, com aproximadamente cinco anos de idade, era meu chamego. No deslumbramento de uma infância em contato permanente com a natureza, (minha irmã morava em um sítio à beira de um caudaloso rio, o Itaitinga), brincávamos de bambolê, tomávamos banho no rio e, ao colocá-la para adormecer, pedia-me para cantar ‘Um dia gatinha manhosa eu prendo você no meu coração...”, música de Erasmo Carlos, de muito sucesso na época. Nas cartinhas que me escrevia  no início do seu processo de letramento enternecia-me com mensagens como esta:



Minha mãe era de uma ingenuidade a toda prova. Para ela, ninguém era mau, ninguém fazia nada errado, acreditava nas pessoas em seu estado puro de grandeza. Se alguém lhe  falasse sobre um erro de um dos seus filhos, além de não acreditar,  tentava convencê-lo das qualidades que os mesmos possuíam.
Lembro-me que, de volta de uma das suas viagens a Alcobaça, estávamos, eu a algumas primas, esperando-a no aeroporto de Ilhéus. Ao descer do avião, assustou-se ao ver que muitas garotas  gritavam e corriam em direção a um rapaz que, ao seu lado, estava chegando ao saguão da sala de desembarque.  Fomos ao seu encontro, e ela  logo quis saber o motivo da confusão Não seria aquela uma abordagem violenta injustamente dirigida ao seu companheiro de vôo?
-Um moço tão simpático, sentou ao meu lado e conversamos muito, perguntei-lhe se conhecia meus sobrinhos que moram em Salvador, pois ele está indo para lá.
Não acreditei! Minhas primas davam risadas. Daríamos tudo para estar no seu lugar. O moço bonito e simpático que sentara ao seu lado era nada mais nada menos que nosso ídolo da Jovem Guarda, Jerry Adriani.
No dia da minha viagem para Salvador, na véspera do vestibular, foi uma chantagem só:

-É isso mesmo, a gente cria os filhos e no final fica sozinha. Minha única filha mulher que mora comigo, vai me deixar.
 Chorou bastante, tentei convencê-la de que não iria abandoná-la nunca. Meu primeiro dia das mães longe dela, mandei-lhe este cartão. O primeiro de muitos daí por diante:



Mesmo não estando morando com ela, continuei sendo sua cuidadora, sua procuradora, sua amiga. Víamos-nos quatro vezes no ano, e muitas vezes ela passava férias aqui em casa. Corri para junto dela quando faleceu o seu filho caçula, em 1977. Sofremos juntas mais uma vez. Trouxe-a para ficar alguns tempos comigo. Tanto meu pai quanto minha mãe não gostavam de sair. Achavam que só eles poderiam cuidar da casa, do pomar, das galinhas do jardim.
O destino ainda lhe reservava algumas peças: foi operada, em Feira de Santana, da tireoide. Devido à complicação da cirurgia, teve que ser reoperada com menos de vinte e quatro horas. Recuperou-se aqui em casa.Em um mil novecentos e noventa, vivencia a  tragédia acontecida com um filho que, após tomar uma pancada na cabeça, é operado e fica em coma por quinze dias e quase quatro meses de reabilitação em minha casa. Recuperou-se quase que totalmente, restando-lhe poucas sequelas.
Concedeu-nos o Senhor a dádiva de comemorarmos os seus noventa e um anos. Um almoço para toda a família, amigos mais chegados e os seus companheiros e companheiras da Igreja Batista onde congregava. Repito aqui o que, naquele momento, eu disse para ela.
-“Mãe, você é a minha alegria, minha amiga mais próxima, meu exemplo de humildade, de fé e de força. A sua presença me embala como canção de ninar. Os seus cabelos brancos são, para mim, como lãs que afofam a minha alma. Os seus ensinamentos fizeram-me melhor porque você mostrou com as suas atitudes que o importante é SER e não apenas TER. Ensinou-me a enxergar o mundo para além do que os meus olhos veem. Então, mãe, você é e será sempre a mais bendita das mulheres. Você é e sempre será: eterna”.